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Eis um tema polêmico: pessoas a quem é dada maior autonomia de trabalho tendem a escorregar em termos éticos com mais facilidade. Este é o resultado de uma pesquisa feita pelos professores Jackson Lu, Yoav Vardi, Ely Weitz e Joel Brockner, da Columbia University, de Nova York, e tornada pública no último mês de julho.

Trabalhar em “home office”, escolher o próprio horário de chegada e saída, escutar música durante o expediente. Essas são algumas das “liberalidades” que entraram na moda em empresas por todo o mundo e que, aparentemente, aumentam a satisfação no trabalho e a produtividade, em muitos casos. Mas os professores alertam: embora seja “mais legal” trabalhar sem muitos controles por parte da empresa, a falta desses despertaria nas pessoas um “lado negro” de sua moralidade.

A liberdade “pode dar às pessoas a ideia de que elas podem fazer o que quiserem, incluindo não acatar as regras da moralidade”, afirma o professor Brockner, em artigo de sua autoria publicado no blog “Ideas and Insights”, da Columbia University.

Em uma leitura rápida, o professor, que é psicólogo, parece concordar com o ditado popular que diz que a “ocasião faz o ladrão”. Ele diz: “Maior autonomia talvez não leve as pessoas a ‘querer’ agir de forma antiética, entretanto o comportamento antiético pode surgir quando a oportunidade para tal se apresenta diante dele”, diz ele. Ele mesmo, porém, faz uma ressalva: “O comportamento antiético é menos provável para quem a moralidade é parte central de sua auto definição como pessoa”. Ou seja, o ditado mais provável é o “reformado” por Machado de Assis, que dizia: “a ocasião faz o roubo, o ladrão já está pronto”.

Brockner salienta que ele e seus colegas não defendem o fim da autonomia, que tem seus benefícios comprovados. Mas eles insistem que ela não pode não ser considerada uma panaceia totalmente favorável, como é pintada hoje. Uma visão mais balanceada entre  o positivo e o negativo pode maximizar o que a autonomia traz de bom (motivação, satisfação, criatividade) enquanto minimiza, por outro, seus lados mais perversos. E a pesquisa indica um caminho para isso.

Os dados levantados por Brockner mostram que “autonomia” não significa a mesma coisa para todos os empregados. Há quem dê grande valor a essa condição, outros nem tanto. Por isso, o segredo é descobrir, entre os empregados, aqueles para quem a autonomia realmente é um valor pessoal. Entre esses, “a relação positiva entre a autonomia e o comportamento antiético diminui enquanto a relação entre autonomia e a criatividade se mantém”, diz o estudo, que conclui com uma sugestão: a autonomia deve ser concedida àqueles empregados que realmente prezam, valorizam e lutam por essa condição.

Veja o artigo (em inglês) do professor Brockner e seus colegas em: https://goo.gl/AHDtLg